sexta-feira, 3 de dezembro de 2010



nos meus pensamentos parece ter feito o resto do mundo evanecer frente aos meus olhos. Eu consigo facilmente enxergar teu vulto sob a luz dos postes, bem como o teu reflexo ao lado do meu, nas vitrines das lojas. A TV tenta, mas não consegue abafar o som da tua voz, cujo calor provocado pela proximidade da tua boca me fez esquecer do frio que faz lá fora. No lugar de onde venho, sempre faz frio lá fora, e eu levo em alguma parte de mim a lembrança desse lugar. O mundo gira e você, que está sobre ele nesse e em qualquer outro momento, embarca junto nesse carrossel. No entanto, como é natural de quem está a girar, você vem e vai. É tudo um grande e chato processo cíclico. Você acha que tudo que vê é novo, quando na verdade são apenas ângulos diferentes de um. Mas nada nem ninguém espera você terminar sua volta pra acontecer e pra agir. Enquanto você não está, o vento segue uivando, as árvores continuam a balançar e ela pode até vir a conhecer alguém que, em princípio, é bem mais interessante que você e isso vai certamente te entristecer um bocado. Por isso é que eu digo que às vezes é bom você relaxar a soltar esse guidão que te prende a um ridículo cavalo de fibra de carbono. Deixe a força centrífuga agir sobre você, lhe alçando em vôo desordenado pra fora dessa roda. Na maioria dos casos, há um lado positivo em se ver esborrachado no chão, colhendo dentes que caíram da sua boca. É positivo porque somente assim você vai ser parte daquilo que sempre via como um enorme borrão e entortava o pescoço pra entender o que era: o mundo. E você vai ser parte desse mundo, não mais mero espectador de câmeras de vigilância. Você vai, inclusive, ver que ela continua presa ao carrossel e que o cara que ela conheceu lá é, de fato, um tremendo boçal, segurando-se todo medroso naquele cavalo. Ela acha que tem as rédeas da própria vida sem perceber que está encilhada desde que nasceu, e apanhando, de relho. E você, sujo e sem dentes, vai rir muito disso tudo daqui a pouco, pode acreditar.

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